terça-feira, janeiro 27, 2009

O vencedor está só...

Não, não pretendo comentar sobre esse livro do Paulo Coelho. Esse é o título de um conto que escrevi e logo abaixo vocês conferem em primeira mão!
Como de costume, espero que curtam pelo menos tanto quanto eu curti escrever.

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"Perguntei ansioso se dessa vez iriam me ver competir. Como de costume, afirmaram que dessa vez iriam. Verifiquei se não havia outro compromisso (desculpa?) que pudesse os impedir, nada...

Era engraçado como meus olhos brilhavam ao comentar (orgulhoso) com (todos) os professores que nessa competição eu correria para os braços de meus familiares. Lembro que brinquei dizendo que eles não deveriam ficar com ciúmes, afinal era minha família.

Mais ansioso que de costume me arrumei com horas de antecedência. Só esperando chegar a hora de ir, ainda que se dependesse de minha vontade já estaríamos no local, certamente exibindo minha família aos demais colegas nadadores.

Enquanto o tempo (sempre teimoso com os ansiosos) não passava, imaginava meus pais conversando com outros pais, trocando idéias sobre os méritos dos seus respectivos filhos, numa pequena e inofensiva guerra de egos. Também imaginava os mesmos conversando com os treinadores, alguns puxões de orelha quanto a um possível desperdício de potencial por preguiça seria inevitável. De certa forma até que seria desejado esse apoio/cobrança/encorajamento.

A minha ansiedade, mesmo transbordando, não parecia ser compartilhada. Acordaram como de costume, o vagaroso ritmo matinal se manteve. Cada um tem seu tempo, foi o que pensei sem grande conforto e um pouco de tempo passou, até que chegou uma hora boa para começarem a se arrumar. Contando os segundos para chegar um dado instante e não aparecer afobado demais perguntei se eles iriam preferir ir de carro ou a pé (era bem perto, coisa de 3 quarteirões). Mais para reforçar o compromisso do que por preocupação com meios de transporte.

Uma ligeira interjeição se fez presente como que se não fosse um compromisso estabelecido luas atrás e reforçado a cada sol. "Nossa, não me lembrava, nem preparei almoço, você faz questão que a gente vá?". Questão... Nem sei quantos eu mataria pela questão que eu fazia, questão essa de que estivessem comigo participando por vontade própria, pelo simples querer fazer parte.


Embora com tempo de sobra, preferi não me prolongar em casa, e segui meu caminho levando a mochila multiplamente reconferida. Engraçado imaginar que o único presente da família estaria dentro da piscina, sem portanto poder usar os apitos multicolores escolhidos para a supostamente fervorosa torcida. Interessante como que "quero que queira" limita as ações...

Os passos não eram exatamente apressados, mas inevitalmente me levaram até a academia. Sem procurar muito contato de outros, aqueles que me encontraram perguntaram onde estavam os demais. Sem verborragia respondi que estava ocupados e não puderam vir. Agora, sem palavras, me ofereciam discreto apoio. "Liga não, no próximo eles virão". Mas todo remédio perde efeito com uso seguido.

Dizem que energia é uma questão de direcionamento. E embora naquele dia eu estivesse com oponentes de maior nível técnico, eu era pura energia. Quis atravessar aquela piscina em uma braçada, quis romper a parede da chegada com minha cabeça, quis uma vitória de meia piscina, quis meu nome gritado para ser ouvido de longe (3 quarteirões seriam suficientes)...

Nas suas marcas...
Preparar...
Já!
Não eram braços e pernas, eram um motor em absurdo funcionamento.
E ainda que meia piscina seja forçar, venci. Até com certa folga...

Os mesmos braços que empurravam com determinação para a vitória, não se ergueram para comemorá-la. Em silêncio ajudaram a afundar o corpo, agora coberto pela água. O grito que deveria ajudar a alcançar a vizinhança nunca saiu da piscina.

Uma nova medalha, um novo diploma, um novo prêmio, uma nova aprovação, o velho (errado) motivo..."

2 comentários:

Cherry. disse...

Nossa, gostei muito do seu conto, você escreve brilhantemente bem! :)

Está de parabéns!

Beijos

Unknown disse...

Realmente é um lindo texto. Carregado de sentimento, faz a gente imaginar e sentir cada cena. Parabéns!